9.12.09

Temos vacina, agora faltam os candidatos

Se for a andar na rua e lhe aparecer um sujeito de bata branca e seringa na mão, não se assuste. É com certeza um dedicado funcionário do Ministério da Saúde que lhe vem dar a vacina contra a gripe A, mais precisamente a dose recusada por um dos senhores que protagonizaram a notícia de tomada de posse. Também pode ser aquela que cabia a um dos deputados recém – eleitos porque, quer acredite quer não, estão todos na lista dos prioritários, vá-se lá saber como é que o país sobrevive sem eles nas férias da Páscoa, do Verão e nos interregnos das legislaturas.
Ah, desculpe, mais provável ainda é que tenha a etiqueta o nome de um dos muitos médicos e enfermeiros que, ao que parece, dão vacinas, mas recusam-se a tomá-las, numa manifestação de consequências complicadas junto da opinião pública. É que as pessoas poderão pensar que desconfiam da vacina, sem perceber que na realidade estão ansiosos por contrair o vírus H1N1, a desculpa válida para se pirarem das urgências e dos centros de saúde, onde são obrigados a passar atestados a metro e a suportar o histerismo dos doentes, inflamados por aquilo que muitos dos clínicos consideram um empolamento de uma doença absolutamente banal.
Quem deu o corpo ao manifesto foi o director geral da saúde, que foi vacinado em directo, sob os holofotes e perante as câmaras, na tentativa de dar o exemplo, ou não estivéssemos perante “a maior campanha de vacinação de sempre”, que quando fazemos as coisas é em grande. Com este gesto, Francisco George tornou-se, antes de mais, candidato ao elenco do gato Fedorento, servindo a cena para nos consolar do fim do Esmiuçar os Sufrágios. Falando a sério, é claro que a vacina é segura, a OMS não brinca em serviço, e nem quero imaginar os protestos nacionais se Portugal não a tivesse disponível. Se os imprescindíveis não a tomarem, mais fica para quem dela precisa.



Isabel Stilwell
Destak 27/10/09

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