Tudo é muito mais perturbante porque se faz acompanhar de sinais que não permitem situar este tempo fora da realidade a que pertence, e assim fazendo nos impedem de viver com ele na distância tranquilizadora que há entre nós e os nossos sonhos.
Se pudéssemos remeter esta imagem para a penumbra das intuições, ouvir estas vozes para lá do filtro da racionalidade, ao longe, fora do mundo. Mas as raparigas levam permanentes e calças justas, sentam-se homens na berma a ouvir relatos com o transístor colado ao ouvido, alguém canta uma cançoneta da rádio, passa alguém de motorizada a entregar sandes de chouriço e cervejas, é mesmo verdade, é irremediavelmente real.
Estas pessoas também se beijam e pintam os olhos, andam de avião, possuem arcas frigoríficas, dançam nas discotecas e alugam vídeos.
Nada nelas concede a descolagem apaziguadora que nos transportasse a uma dimensão suspensa.
Os peregrinos põem as mãos nos rins, acenam, continuam a andar.
Canções das Crianças Mortas
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